Mudança de hábito

Isso é que é intercâmbio! Tudo realmente muda! Hoje moro sozinha, faço meu próprio ranchinho do mês, aprendo todos os dias novas palavras, conheço cada dia pessoas de nacionalidades diferentes e descubro cada vez mais como eu estava acostumada com o mesmo estilo de vida.

Aqui, na França, as coisas são muito diferentes. Muito de verdade! Vou citar algumas coisas que estranhei:

- O ônibus, por exemplo, respeita a velocidade máxima e não faz curvas loucas pela cidade. Na verdade, os motoristas são todos muito cautelosos e gentis com os outros automóveis. Bem diferente dos ônibus de Porto Alegre e daquela animação que vi, Montanha Russa de Pobre.

- Não importa onde você esteja caminhando, o carro sempre pára para que você possa atravessar a rua. Mesmo que esteja fora da faixa de segurança, é comum que os carros parem. Eu, quando vejo que um carro vem na minha direção, mesmo que um pouco longe, paro e espero. Mas, quando ele se aproxima, ele diminui e pára, permitindo que eu tenha a preferência na travessia.


- Nunca vi pessoas varrendo as calçadas. Agora, no início do outono, muitas folhas amarelas caem nas ruas, mas nunca vi uma criatura de manhã cedo varrendo. Eu lembro que na minha rua o primeiro compromisso das donas de casa é varrer a calçada. Antes até que tomar café! Aqui, são funcionários do município que carregam umas máquinas que parecem secadores de cabelo gigantes. Eles fazem morrinhos de folhas, mais tarde, passa uma caminhonete com um sugador gigante que engole toda a sujeira. Isso tudo uma vez por semana. As vassouras foram abolidas por aqui.

- Não importa a temperatura, tem sempre alguém de lencinho no pescoço. Até entendo isto, aqui tem muito vento, e ninguém quer pegar um frio e ficar gripado. Adotei a estratégia. De manga curta e lenço no pescoço!

- Quando pego o ônibus, procuro logo um lugar para sentar. Bom, em Porto Alegre e em Canoas é mesmo assim, todo mundo disputa pelo banco mais alto ou pela janela. Contudo, quando as pessoas daqui entram no ônibus, grande parte escolhe ficar em pé. A estrutura interna do ônibus é diferente, tem mais espaço para ficar na posição vertical. Mas mesmo assim, eu prefiro sentar.

- Ainda dentro do bus. Quando alguém aperta o botão para descer, esta pessoa, se estiver sentada, só levanta as suas almofadas da cadeira quando o veículo pára! Pelo que eu lembro da minha cidade, uma parada antes as pessoas já se levantam para esperar a próxima em pé na porta. Aqui, as pessoas são mais calmas.

- Na faculdade, metade dos alunos leva seu computador para anotar as coisas. A outra metade leva blocos de folhas de fichário quadriculadas. Eu sou absolutamente a ÚNICA a anotar as coisas em um caderno com espiral e folhas com linhas simples. Meu caderno faz um certo sucesso, pois tem coelhinhos espalhados pela capa e pelas páginas internas. Me sinto meio criança até!

- As máquinas de refrigerante devolvem o troco certo. A máquina de café não entende quando aperto o botão “sem açúcar”. A máquina de doces precisar ser sacudida para derrubar seu Kinder Bueno quando fica preso. Aqui tem Cherry Coke.

- A carteirinha de estudante da Universidade é de papel, e não de plástico. Não tem código de barra, e até hoje usei apenas para ter desconto na entrada da pista de patinação.

- No super-mercado nunca encontrei açúcar “em pó” (sempre em cubos), fósforos, feijão, pão de cachorro quente, álcool de limpeza sem aroma e pizza congelada Sadia de lombo com catupiry.

- No super-mercado, você mesmo leva sua sacola. Se não tiver, você pode comprar uma. Tem três tamanhos para escolher: a sacola simples €0,03, que pode ser usada uma vez só (semelhante às nossas); a sacola média €0,10, onde se podem colocar coisas mais pesadas, além de poder ser usada várias vezes; sacola grande €0,70, realmente enorme, perfeita para quem vai fazer o ranchinho do mês.

- Tive um mês de aula e já vou ter férias! No Brasil, o feriado de Finados é apenas o feriado de Finados. Aqui, o feriado de Toussaint dura uma semana! Temos férias também nos dias em azul da tabela:


- Não conheço nenhum francês cheio. São todos super simpáticos e querem sempre ajudar. E aquilo que ouvimos que o europeu é muito fechado ao contato físico, para mim não é verdade. Meus colegas franceses da faculdade me cumprimentam desde a segunda aula com beijinhos, assim como fazemos no Brasil. Nem conhecia eles direito, e já chegaram cumprimentando com beijos e abraços. Detalhe: os meninos também se beijam.

- Eles não tomam “banho”. Nem eu tomo “banho”. Tomamos todos os dias uma “ducha”. Sabe, chuveiro quente, muito sabonete, shampoo e condicionador. “Banho”, aqui, é de banheira.

- Aliás, o chuveiro aqui é igual às torneiras do shopping: aperta o botão, a água sai, sai, sai e depois pára. Temporizador. A manha da aranha é ficar apertando o tempo todo, senão ela pára. E a luz também tem temporizador. Ou seja, tome banho rápido ou fique no escuro.

- Nunca gostei tanto de hambúrguer congelado com ovo frito.

Enfim, eu estava realmente acostumada e acomodada com as coisas do Brasil. Agora, que já estou aqui há um mês e cinco dias, posso dizer que me acostumei bem.

Como me disse por e-mail o professor Fabian, “são coisas que se aprende que jamais caberiam em quatro períodos numa manhã ou num semestre inteiro dentro de uma sala de aula”. Aproveito para agradecer o apoio dele e de todos os outros professores que me acompanham nesta caminhada. Prometo fazer bonito!

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Veja: Montanha Russa de Pobre